Eles são até hoje lembrados por seus filmes, respeitados como grandes nomes do cinema mundial e já estão mortinhos da silva. Mas Kubrick, Welles, Eisenstein e Hitchcock guardam outra coisa em comum: todos deixaram seus mais ambiciosos projetos cinematográficos inacabados!
Napoleon - de Stanley Kubrick
Stanley Kubrick gastou dois anos inteiros de sua carreira e da sua equipe em uma pesquisa meticulosa da história da França, levantando um catálogo de milhares de peças da época para reconstruir toda a tragetória do imperador Napoleão Bonaparte da forma mais fiel possível. Com seu notório perfeccionismo, o diretor turrão chegou a conseguir que o exército da Romênia liberasse 40 mil soldados e 10 mil cavaleiros para atuarem nas cenas de batalha quando começassem as filmagens. Mas as filmagens nunca começaram!
Era 1967, e enquanto Kubrick filmava o épico de ficção-científica "2001 - Uma Odisséia no Espaço", andava as voltas com a pré-produção de "Napoleon", baseado no livro de Felix Markham, de 63. O papel principal já havia sido inclusive escalado (Jack Nicholson), um roteiro estava sendo produzido e o filme contaria com grandes batalhas navais, reconstituidas em escala natural e com mais de 50 mil figurantes.
Mas o detalhe é que, embora "2001" tenha sido um enorme sucesso, a MGM não estava lá muito disposta a financiar o filme visionário de Kubrick e tratou de matar "Napoleon" antes mesmo de começar a gastar grana de verdade no projeto. Puto da vida, Kubrick ficou de mal, juntou os trapos e correu para a Warner onde realizou várias de suas obras-primas, como "Laranja Mecânica" e "O Iluminado".
Don Quixote - de Orson Welles
Orson Welles gastaria 30 anos e mais de 300 mil metros de filme tentando concluir aquele filme que se tornou a maior obsessão da sua vida: "Don Quixote". Nele, teriamos um Don Quixote e um Sancho Panza se valendo do código de honra e valores da cavalaria para enfrentar os problemas da Espanha dos dias de hoje.
As filmagens começaram em 1955 e perdurariam por três décadas e dois continentes, com Welles tentando reunir atores e equipe para dar continuidade nas filmagens sempre que sobrava uns trocados de outros projetos realizados por ele. A paixão do cara por seu "Don Quixote" era tanta que ele chegava a deixar filmes na mesa de edição para voar para o México e filmar as viagens malucas do seu cavaleiro de La Mancha.
Após a morte de Welles em 1985, o material resultante de "Don Quixote", apesar de extenso, era um emaranhado de idéias delirantes e imagens muito loucas. Mas isso não impediu que Jess Franco ("The Awful Dr. Orloff" e "Count Dracula"), lançasse sua edição do trabalho em 1992, embora afastando o público e atraindo a ira da crítica especializada, que caiu de pau na sua versão tosca.
Que Viva Mexico - de Sergei Eisenstein
Mundialmente aclamado por sua obra-prima "O Encouraçado Potemkin", o visionário Sergei Eisenstein poderia ter deixado mais uma importante contribuição para o cinema mundial caso tivesse concluído seu projeto mais ambicioso: "Que Viva Mexico". Um verdadeiro manifesto de proporções épicas a cultura mexicana, influenciado diretamente pelo encontro do diretor com o pintor Diego Rivera.
Ao que parece, problemas durante as filmagens, um orçamento estourado e um suposto telegrama nada animador enviado pelo próprio Stalin acusando Eisenstein de ser um traidor da Mother Russia pesaram contra o projeto e Upton Sinclair, que financiava a produção, tratou de fechar as torneiras em 1932. Impossibilitado de dar continuidade as filmagens, Eisenstein voltaria para a Russia de mãos abanando e nunca mais teria chance de retomar o filme.
Existem hoje versões alternativas do material filmado de "Que Viva México", embora nenhuma delas tenha sido endossada pelo diretor russo ou chegue perto das intenções que Eisenstein tinha para o seu projeto mais querido.
Kaleidoscope - de Alfred Hitchcock
"Kaleidoscope" foi idealizado por Alfred Hitchcock, na década de 60, como seu passaporte de volta a melhor fase da sua carreira bastante arranhada pelos fracassos de seus últimos trabalhos de então, como "Cortina Rasgada". Caso o estúdio MCA não tivesse cortado as asinhas de Hitchcock e colocado esse projeto para sempre em uma gaveta, teriamos sem dúvida o filme mais doentio do mestre do suspense, sem exageros.
A trama de "Kaleidoscope" é contada pelo ponto de vista de um estuprador e assassino em série. Um jovem gay que atrai suas vitimas com sua beleza e charme sedutor. O filme contaria com várias sequências de mortes brutais, que Hitchcock queria mostrar de uma forma mais forte e mais explicita do que já havia feito, usando luz natural e câmera na mão.
Eram idéias tiradas diretamente das páginas policiais dos jornais que Hitchcock lia (mais precisamente os casos "Haigh" - assassino que dissolvia suas vitimas em uma banheira de ácido e "Christie" - estuprador e necrófilo). Mas o diretor de fato não fez muita questão em brigar com a MCA para levar o projeto adiante, pois se deu conta que "Kaleidoscope" poderia ser assustador demais para o grande público e mal-interpretado como gratuito e de mal gosto. Uma pena!
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